A perda de um filho trás sempre á tona este sentimento: CULPA. É estranho, como no meio da dor, da tristeza, da raiva e da frustração, entre tantos outros sentimentos vividos, a culpa é aquele que mais me marcou. Quando pensei em engravidar, achei que tudo seria normal. Mas no momento em que me apercebi que tinha perdido a minha bébé, ela chegou...de mansinho, sorrateira, lentamente tomando conta de mim... ela tinha chegado: a culpa estava ali, instalada e disposta a ficar para sempre. Culpa por não ter dito nada á minha mãe.Culpa por ter querido que a minha gravidez fosse a prenda mais surpreendente daquele Natal.Culpa por ter arrastado as nossas familías para dentro de um pesadelo horrivel: eu ter quase morrido.Culpa por ter permitido que a minha bébé partisse.Culpa por não a ter protegido.Culpa por ter inveja e raiva de todas as mulheres com filhos.Culpa por não conseguir ver os meus sobrinhos, ou qualquer outra criança, sem sentir o desejo que fossem meus filhos.Culpa por me sentir tão incompleta, tão frustrada.Culpa por magoar todos os que me rodeavam com a minha dor.Culpa por ter sobrevivido.Culpa, culpa, e mais culpa.Hoje, eu sei que nada poderia ter sido feito, nada poderia evitar a partida do meu anjo. Nada. E saber isso, de algum modo trouxe-me paz. Aconteceu. Foi isso, aconteceu apenas. Eu estou aqui, foi-me dada uma segunda oportunidade. Antes, quando ouvia dizer que estar perto da morte modificava uma pessoa, achava que era exagero. Hoje, sei que não é. Eu mudei. Estou mais forte, mais alerta. E mais determinada do que nunca a realizar o meu sonho.