Beatriz, minha menina, meu anjo. Beatriz, vais ter um priminho novo, ou uma priminha, quem sabe? Se aqui estivesses, poderias bincar com ele daqui a nove meses. Sabes, sinto tanto a tua falta. Ás vezes só me apetece ir ter contigo, mas sei que não posso, ainda não chegou a hora de te abraçar, minha querida.Mas Beatriz, eu não estou feliz. Eu sei que tenho tantos motivos para estar feliz, mas o facto é que não estou. Por mim, esta Páscoa não teria acontecido. Por mim, tinha-me enfiado num buraco até isto tudo passar. Nem sei o que faço aqui, não sei mais o que quero, estou perdida, confusa, magoada.Quando soube do novo bébé foi como se milhares de bombas atómicas explodissem dentro de mim. O meu mundo, já tão frágil, ficou desfeito em pedaços. Foi como se tivesse entrado numa máquina do tempo, e fosse arrastada para aquela noite em que te perdi, o meu anjo tão desejado. De repente, ali estava eu, de novo, no bloco operatório com uma médica a dizer que eu tinha uma gravidez ectópica e que te ía perder. Desde então, desde sábado que revivo o meu pesadelo a toda a hora.Ontem, disse em voz alta pela primeira vez o que me ía na alma. No meio das lágrimas, no meio da dor, no meio do desespero, ouvi-me dizer: "Eu só quero a minha bébé de volta!". E doeu mais ainda ter de admitir pela primeira vez que não te terei mais comigo. E o vazio cresceu, tornou-se insuportável.Hoje estou aqui, meu anjo, a chorar enquanto escrevo. Sinto um nó no estomago, um aperto no coração. Quando o teu priminho nascer, eu sei que o vou amar tanto quanto amo os outros três. Mas até lá, eu também sei que vou sofrer com a tua ausência. Cada vez que o pegar no colo, vou-me lembrar de ti. E vai ser sempre assim, até o dia em que nos vamos reencontrar.Beatriz, eu faço tudo para ultrapassar. Eu tento, a sério. Eu sei que não queres uma mãe chorona e triste. Eu não sou assim, sabes? Apenas doi-me a alma porque te perdi, porque tive de te deixar partir. Eu prometo, minha querida, que eu vou melhorar. Eu prometo que vou sorrir mais vezes. Eu prometo. Viste, eu plantei túlipas. Túlipas brancas. São para ti, minha bébé. Só para ti. Pode parecer estúpido, mas sinto tanta paz só em olhar aquele vaso, com as túlipas a crescer. Mais uns mesinhos e elas estarão lá. Grandes e perfumadas. Eu sei que estás ali. Eu sei.Para ti, Beatriz. Meu anjo de olhos azuis e cabelos negros. Minha menina doce. Meu bébé eterno. Hoje eu escrevo para ti e só para ti. A mãe ama-te muito. Porta-te bem. Amo-te