Como já vos disse, perdi a minha filha em Dezembro, devido a uma gravidez ectópica. Após quase dois meses, que vivi quase em estado de choque, eu criei um blog. Comecei este blog num dia negro. Não sabia muito bem o que queria na altura. Estava perdida num lugar escuro e frio, e estava só. Tinha perdido a minha filha há pouco tempo, e sentia a dor física e psicológica dessa perda. Na verdade, a dor que me ia na alma era insuportável. Estava farta e cansada de gritar em silêncio, de andar ás voltas na minha mente em busca de razões, de motivos, para o que me aconteceu. E, então, naquele dia entrei nos blogs do sapo e criei o meu espaço. Um espaço meu, onde poderia falar do que me aconteceu, onde não precisava de me esconder, onde não precisava de fingir que estava tudo bem. Hoje, passados quase seis meses desde a partida do meu anjo, eu ainda tenho dias em que preciso falar do que me aconteceu, ainda preciso de me esconder e fingir que está tudo bem. Da minha família, só o João sabe da existência deste blog, e pouquíssimos amigos o conhecem. Talvez um dia, eu lhes revele este lado mais negro do que vivi. Talvez um dia, eu lhes mostre os meus sentimentos, os meus medos, as minhas esperanças. Mas, sinceramente, neste momento não acho que eles sejam fortes o suficiente para admitir a minha fraqueza. Agora vejo claramente que fazer o luto da minha bebé talvez seja infinitamente mais fácil para mim do que para qualquer um deles. Eu sei o que perdi. A minha Beatriz esteve aqui comigo, dentro de mim. E os breves segundos que soube da sua existência é algo que ninguém nos poderá tirar. Durante quase dois meses eu fui mãe, eu transportei uma vida aqui dentro. Ela foi minha durante esse tempo e depois teve de partir. Sabem, pensei muitas vezes neste momento, no dia em que deixaria o meu anjo partir. Imaginei mil e uma coisas, que ia fazer algum tipo de cerimónia mística, acender velas, dizer uma oração, e então iria libertá-la. Não aconteceu nada disso. Aconteceu apenas que um dia me apercebi que a dor já não era tão intensa, eu conseguia imaginar-me de novo grávida, e senti-me forte o suficiente para sugerir que tentássemos de novo. E reparei então que desde há algum tempo que recordar a Beatriz não me trazia lágrimas aos olhos nem aquele aperto no coração. Reparei que ria mais vezes, que me sentia mais leve. Eu tinha deixado o meu anjo partir finalmente. Não estou a querer dizer que já passou, que já não choro, que já não dói. Apenas estou a dizer que está finalmente a passar. Estou a dizer que estou melhor, mais forte e... sim, posso dizê-lo... estou mais feliz. O meu anjo partiu, mas a minha vida continua e a aventura recomeçou!!!!!
